quarta-feira, 15 de junho de 2016

Em preparação a beatificação de nossa fundadora, mais um texto do Livro "Orar 15 duas com Veneravel Maria Celeste Crostarosa"

RETRATOS VIVOS DE MEU FILHO...

Para que minhas criaturas guardem a lembrança desse amor eterno com que as amei, desejei escolher este Instituto, a fim de que seja para o mundo inteiro uma Memória viva de tudo o que meu Filho se pôs a fazer pela salvação da humanidade, durante os trinta e três anos que viveu e caminhou como homem pelo mundo...Gravem, pois, sua vida em suas almas, assim como sua verdadeira imagem e lembrança. Sejam sobre a terra retratos autênticos e bem vivos de meu Filho bem - amado. È ele o único líder e único Rei de vocês! (F-M, n. 1 Règles, But et Idée).

            Retratos vivos de meu Filho...Uma Memória viva de tudo o que meu filho fez... Essas palavras figuram na primeira página das Regras do novo Instituto e aparecem muitas vezes nos escritos referentes à fundação, revelando um aspecto inovador da imitação do Cristo. Numa época em que a maioria das pessoas considerava essa imitação como um simples copiar as virtudes de Jesus, Maria Celeste insiste nas raízes evangélicas e no caráter global dessa imitação.
            Em outras palavras, para ela não se trata tanto de copiar, uma a uma, as virtudes do Cristo, e sim de se impregnar de sua maneira de ser e de agir, de se fazer um com Ele, de a Ele se unir para que nos transforme a ponto de fazermos ver seu rosto, entender sua mensagem, sentir seu amor, e nos tornar assim "uma viva memória do Filho do eterno Pai".
            Além disso, para Maria Celeste, essa imitação não deev ser individual, mas comunitária. Trata-se de, a um tempo, em Igreja, fazer ver o Cristo e descobrir seu amor para salvar todos os homens. Ou seja, não é para se fugir do mundo, mas para salvá-lo. Assim, num tempo em que muitos entravam para a vida religiosa procurando sua santificação pessoal, Maria Celeste faz ver que se deve entrar para a vida religiosa primeiro para evangelizar o mundo, como o lembrará alguns séculos depois o Concílio Vaticano II. É a essa imitação que Jesus chama sem cessar Maria Celeste

Minha filha, eu serei luz para sua conduta, e sua alma nutrirá do alimento da vida eterna, alimento oculto durante a vida que aqui vivi. Este há de ser o espírito de seu Instituto: minha memória e minha imitação, tudo como se eu vivesse entre vocês. Portanto, agora, minha filha, ordeno que escreva algo sobre minha pessoa, para que se possa conhecer tudo o que você recebeu de luzes e  benefícios desta fonte que sou eu... Onde estão os fundamentos sobre os quais se apóiam as Regras que vocês adotaram? Tudo repousa sobre minha vida, sobre a humildade e sobre a caridade (L, cap. III).

            O essencial da espiritualidade de Maria Celeste é o Evangelho, a Boa Nova do Deus Amor. Para isso é preciso contemplar o Cristo. Ele revela o verdadeiro rosto de Deus, Pai e Mãe a um tempo, infinitamente pródigo de amor para conosco, desejoso de a todos perdoar e de promover o crescimento de todos, sobretudo dos mais humildes e mais pobres. Maria Celeste se lembra de confidências que lhe fez Jesus a esse respeito:

Já desde minha vinda ao mundo, eu detestava em você tudo o que você amava e que eu não podia amar por se opor a mim. Desde que cheguei, detestava as honrarias dos homens. Eu nasci num estábulo, pobre e desconhecido; fui expulso, posto para fugir e perseguido pelos homens; vivendo em extrema pobreza, odiei as riquezas. Eu era o último dos homens, sem casa,perseguido, amaldiçoado por todos. Amava a abjeção, dava minha preferência aos pobres, aos simples, aos ignorantes, aos pecadores, e conservava com eles. Para Fugir às honrarias que os homens tanto estimam, ocultei minha divindade por um milagre do Todo- poderoso. Para condenar o apego ao bem- estar e ao conforto, eu me alimentava e me vestia pobremente, abraçando todos os incômodos, andando descalço em minhas longas viagens, suportando as intempéries e o ardor do sol, para a glória de meu Pai e a salvação das almas. Como recompensa por meus inúmeros milagres e benefícios, os homens prepararam para mim uma cruz, espinhos, chicotadas, cravos e fel. Zombaram de mim! Fui injuriado, blasfemado, amaldiçoado, castigado e carregado de dores, sem alívio nem consolo. Meu abandono e meu aniquilamento foram totais quando, sobre a cruz, entreguei o espírito, não sem antes ter rogado e lançado um olhar de misericórdia sobre todos os que me haviam ofendido e levado à morte. Veja quanto eu amava e abraçava o que você detesta e abomina, e quanto condenava o que você tinha amado! (L, Oitavo diálogo)
                                                                                                      
            Maria Celeste fica transtornada com essa confidência. E descobre que ninguém há mais humilde que Deus: para nos revelar seu amor, o Senhor quis passar pelo aniquilamento e pela morte. Ela quer segui-lo e nos convida a tomar o mesmo caminho. Mas, como bem diz Sabatino Majorano, não devemos, colocar o acento "sobre exemplos  de Cristo, e sim sobre o seu exemplo". Disso estava convencida Maria Celeste. em todos os seus escritos, ela fala disso. Trata-se, para ela, de fazer uma união de vida com Jesus, principalmente na hora da eucaristia:

Em dado momento, ela (a alma em oração) entra nele pelo amor e se une a todas as suas fadigas e alegrias, e se vê, ao mesmo tempo, cumulada de extrema felicidade amorosa e toda cercada de dores e sofrimentos, à semelhança desse modelo que nela se imprime como um sinete na cera derretida... Dá-se esse tipo de oração geralmente na ação de graças após a comunhão; a alma, no entanto, fica sob sua influência até a comunhão do dia seguinte. Com freqüência o Senhor se compraz em renovar esse favor muitos dias seguidos (L, Degrau Décimo Primeiro).

            Esta intuição do mistério pascal, na vida e nos escritos de Maria Celeste, nós a encontramos na exortação apostólica de João Paulo II, de 25 de março de 1996, sobre a vida consagrada: "A vida consagrada constitui verdadeiramente uma memória viva da maneira de viver e de agir de Jesus enquanto Verbo encarnado diante do PAi e diante dos homens"(Vie Consacrée, n. 22).


E nós, hoje?
              Quando rezamos, nossa oração se dirige a um grande personagem, de infinita majestade, como aos grandes deste mundo, ou ao Deus do Evangelho, o Deus humilde?
            Seguindo Inácio de Antioquia, Irineu e os padre da Igreja, Maria Celeste acreditava que "Deus se fez homem, para que o homem pudesse tornar-se Deus". Será que acreditamos nesse "plano do Pai", a divinização do homem?
              Compreendemos bem que o chamado de Deus Pai para que sejamos "retratos vivos de seu Filho" não se destina apenas a freiras e religiosos, mas a todos os cristãos? Todos somos chamados a ser "retratos vivos de Cristo" e "memória viva de tudo o que ele fez". Por quê? Porque as pessoas que nos rodeiam não irão, em sua grande maioria, ouvir ou ler os quatro evangelhos do Novo Testamento, mas serão numerosos os que aceitarão ler o "quinto evangelho", aquele que nós escrevemos, dia a dia, individual e comunitariamente, com nossas palavras, com nossos atos, com nossa vida. Peçamos, pois, ao Senhor que envie seu Espírito, para que nosso "quinto evangelho" seja de acordo com o Evangelho de Jesus, aquele que ele escreveu ao longo dos trinta e três anos de sua vida terrena.


Oremos com Maria Celeste

Pai Santo,
tu me amaste com predileção.
Consagraste-me a reviver teu amor
sobre os passos do Cristo Redentor,
que me pede morrer a tudo o que não é virtude e bem.
Derrama sobre mim teu Espírito,
e faze que por seus dons
eu possa crescer e me empenhar
em tudo o que devo fazer a teu serviço,
pelo mundo e pela Igreja...
Reveste-me de tua beleza, Senhor,
para que consiga te revelar a todos.
Assim, que todos os que se aproximarem
sintam tua presença
e tenham confiança, luz e segurança em ti
somente.
Eu me confio a ti,
em ti me abandono.
Amém (VM, n. 20, p. 15)



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